Antes de começar, convido vocês a verem outras resenhas do Diário Secreto de Laura Palmer, de Jennifer Lynch, escritos por Paula, Vanessa, do Felipe, da Sasha e do Mateus.
Este livro é literalmente um diário de uma adolescente contando suas vivências e acontecimentos. Com essa estrutura, o livro traz somente a percepção da personagem em relação à família, às pessoas e a sua vida. O objetivo do livro não é te dar respostas e muito menos contextualizar as circunstâncias das situações, mas é mostrar como a personagem se vê e se relaciona com o mundo a sua volta.
Laura Palmer é uma menina cheia de dúvidas e angústias, pensa muito no que sente, em como deve comportar-se, sente-se culpada pelos pensamentos e desejos que tem, questionando sempre se as outras garotas são iguais a ela. Analisando por esse prisma, vemos uma Laura normal como toda adolescente, mas logo percebemos que existe um lado sombrio que nem mesmo a personagem consegue compreender.
Conforme lia o diário tive algumas percepções. Primeiro, pensei que Laura tivesse tido uma educação muito rígida, sendo colocada muita espectativa em relação a ela, o que a fez sentir uma pressão muito grande. Muitas vezes temos a sensação de que Laura está exagerando em suas reações, como uma menina mimada, sabe? Porém, ela sente uma necessidade enorme de se esconder, se proteger e, principalmente, não permitir que ninguém se aproxime. Além disso, sente uma dor muito grande.
Quando nos sentimos sufocados de alguma forma, podemos surtar e desenvolver alguns comportamentos diferentes, podemos criar uma vida paralela totalmente oposta ou, até mesmo, buscar nas drogas um alívio. E Laura resolveu fazer tudo isso!
Nesse ponto, porém, começo a questionar se essa postura da personagem é uma tentativa de fuga da realidade ou trata-se de um distúrbio ou doença psicológica/emocional. E sendo essa a possibilidade, seria provocada por traumas causados pela vida? Seria uma depressão, pois está sempre em busca de alguma coisa? A visão que Laura tem dos pais é real ou está deturpada por uma mente doente? Seria Bob um delírio causado por uma psicopatologia?
Falando em Bob... Me pego pensando nesse ser de algumas formas diferentes. Bob pode ser uma alucinação criada, quem sabe, por uma esquizofrenia, fazendo com que Laura engendre uma vida coexistente à real, o que certamente interfere em suas decisões e ações. Bob também pode ser a personificação dos monstros originados por traumas que nem mesmo Laura concebe. Bob talvez seja uma criatura espiritual, que apesar de ser retratada de formas diferentes por cada religião, produz o mesmo efeito na pessoa assediada. E também vejo o Bob como uma pessoa real que abusou de Laura (e talvez ainda abuse), deixando marcas irreparáveis com as quais ela não consegue lidar.
Algo bastante intrigante é o diálogo com Bob que aparece no diário de Laura, o que me faz questionar se realmente Bob é real e, consequentemente, o quanto o que está escrito no diário é real. Laura deixa bem explícito que também não sabe o que é verdadeiro, assim como não sabe de fato o que sente e porque faz o que faz. Provavelmente essa confusão, junto com sua falta de confiança em si mesma, faça com que ela procure mais drogas e repita o círculo vicioso.
Independente de qual seja a situação da nossa personagem, fica claro a dificuldade que ela tem de lidar com seus sentimentos e com o mundo que a cerca. Qualquer uma das possibilidades, e vejo o abuso como a pior delas, produz em Laura machucados enormes na alma, fazendo com que ela se perca totalmente ao ponto de não ter expectativas de vida além das drogas. Vemos, então, Laura decair dia a dia ao ponto de não mais se valorizar, se respeitar, se amar!
O que faz uma pessoa agir assim? O que te faz se afastar de quem te ama? O que te faz rejeitar uma vida tranquila? Será que temos a real noção do que temos dentro de nossa mente, nosso coração, e nossa alma...? O que escondemos dos outros e de nós mesmos?
Ao não esclarecer ou contextualizar o que acontece com Laura Palmer, a autora permite que possamos ter várias possibilidades de interpretação. É possível, também, identificar várias vidas na mesma personagem e, se pensarmos um pouco, talvez possamos identificar algumas dessas vidas no mundo real, pois, se avaliarmos bem, quantas pessoas perdidas, com doenças ou com atitudes que só as prejudicam existem próximas a nós?
Toda essa perturbação e confusão que Laura expõe, me fez repensar como eu olho para as pessoas de um modo geral e como eu percebo seus comportamentos. Mais ainda, me fez repensar como eu me percebo e me relaciono com o meu mundo.
Afinal...
Quantas Lauras existem nesse mundo?
Quantas Lauras existem em mim?
Quantas Lauras existem em nós?
Dualidade?
Não se trata apenas de dois, mas de opostos.
Não se trata apenas de opostos, mas daquilo que se contradiz.
Peculiar pois...
A certeza, às vezes, é erro;
O amor, às vezes, aprisiona;
A solidão, às vezes, preenche o vazio;
Somos um e somos muitos;
Somos completos e, ao mesmo tempo, totalmente dependentes!
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